Presidente do BC analisa possível ajuste da taxa Selic diante de guerra de tarifas
24/04/25

Marcos Oliveira/ Agência Senado
O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (22) que a instituição ainda analisa se a taxa Selic atual é suficiente para conter a inflação em um cenário de incertezas criado pela guerra de tarifas iniciada pelos Estados Unidos.
Em reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Gabriel Galípolo defendeu a atual taxa de juros do Brasil, a quarta mais alta do mundo em termos reais. Senadores avaliam que os juros altos impedem o desenvolvimento econômico-produtivo, favorecendo a especulação financeira.
Segundo o presidente do BC, a economia brasileira está com um dinamismo excepcional que tem pressionado a inflação para além da meta, principalmente nos alimentos, o que leva a instituição a elevar a taxa de juros, restringindo a atividade econômica brasileira.
“O que o Banco Central está fazendo é migrando para um patamar que ele tenha alguma segurança de que está num patamar restritivo. E a gente está tateando agora nesse ajuste. Se a gente está num patamar restritivo suficiente ou qual é esse patamar restritivo suficiente ao longo desse ciclo de alta que nós ainda estamos fazendo”, comentou Gabriel Galípolo.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), os juros básicos da economia, a taxa Selic, subiram um ponto percentual, chegando a 14,25% ao ano, com previsão de novos aumentos. O Brasil registra a quarta maior taxa de juros do mundo, perdendo apenas para Turquia, Argentina e Rússia, segundo a consultoria Moneyou.
“Por diversas métricas que você possa medir, seja relativa a mercado de trabalho, seja ao nível de atividade dos diversos setores, o que a gente assiste é que a economia brasileira mostra um dinamismo excepcional“, justifica o presidente do BC.
Segundo Gabriel Galípolo, esse dinamismo tem pressionado a inflação.
“A inflação acima da meta está bastante disseminada e, por isso, o papel do BC é ser o chato da festa. Você deve tentar segurar a economia, frear um pouquinho [a economia] para que essa pressão inflacionária não vire uma espiral“, acrescentou Galípolo.
GUERRA DE TARIFAS
O presidente do BC destacou que a guerra de tarifas pode contribuir para manutenção das altas taxas de juros no Brasil. Segundo ele, para uma economia emergente como a brasileira, o cenário internacional tem peso maior que para as economias avançadas.
“Estamos em um ambiente de elevada incerteza, tanto sobre o que deve ocorrer, quanto sobre quais são as consequências da aplicação das tarifas. A partir daí, muitas vezes, cabe ao BC ter de responder aumentando, por exemplo, o prêmio [juros] em função de um momento de aversão ao risco“, ressalta Galípolo.
Apesar das incertezas da guerra comercial, Galípolo sugeriu que o Brasil pode se tornar um destino seguro para investimentos devido à diversificação da pauta comercial brasileira, não tão dependente dos Estados Unidos, e devido ao maior peso do mercado doméstico para o conjunto da economia.
“Não é que fica melhor com a guerra tarifária, mas na comparação com os pares, o Brasil pode ser uma economia que se destaque positivamente pela diversificação nas relações comerciais e pela relevância do mercado doméstico”, salientou Gabriel Galípolo.
CRÍTICAS
Alguns senadores criticaram a atual política monetária comparando as taxas de juros brasileiras com as de outros países, como fez o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO). “Eu venho do setor da indústria e esse setor está padecendo muito, como o setor de serviço, do comércio, do agro. Eles têm sofrido bastante com essas taxas de juros”, afirmou o parlamentar.
O senador cearense Cid Gomes (PSB) sustentou que há uma pequena minoria que ganha com esses juros, que seriam os agentes do mercado financeiro. “Esses juros dão uma margem de lucratividade de 10%. Qual é a atividade econômica neste país que dá, com segurança, uma remuneração de 10%? Talvez vender cocaína, mas com muito mais risco. Isso é uma mamata“, disse.
Cid Gomes defendeu que o BC use outras ferramentas para controlar a inflação, para além da elevação da taxa de juros, como a venda de dólares no mercado para segurar o valor da moeda estadunidense, que também pressiona a inflação.
“Não faltam empresários que defendam essa coisa maluca [juros altos], porque resolveram desistir dos negócios, da indústria, do comércio, da agricultura, e resolveram colocar todo o seu dinheiro aplicado e viver de renda”, disse o senador cearense.
POLÍTICA MONETÁRIA
Gabriel Galípolo justificou que o Brasil tem taxas de juros mais elevadas, se comparada com outros países, porque há bloqueios que impedem que os juros altos tenham o efeito desejado de controlar a inflação. “Talvez existam alguns canais entupidos de política monetária, o que acaba demandando doses do remédio mais elevadas para que você consiga atingir o mesmo efeito”, justificou.
Para mudar essa realidade, o presidente do BC sugeriu reformas que não seriam de responsabilidade apenas da autoridade monetária do país, como a redução dos juros para as famílias. “Elas pagam muitas vezes mais do que a taxa Selic. Essa fatia da população tem uma sensibilidade baixa às alterações na política monetária, dado que a taxa de juros que ela está pagando é tão mais elevada”, destacou.
Gabriel Galípolo ainda citou a necessidade de regular instituições financeiras que, diferentemente dos bancos tradicionais, tem regras mais brandas para seu funcionamento. “Sou mais simpático a criar uma isonomia regulatória, alcançando de maneira mais homogênea e isonômica os diversos agentes e atores”, disse.
Com informações da Agência Brasil.